Filosofia Ayurveda

 

PURUSHARTAS – OBJETIVOS DA VIDA





Os Purushartas ou Objetivos da Vida de acordo com o sistema védico são objetivos originais da alma humana e o não cumprimento deles pode levar a desequilíbrios e a doenças.

Eles são 4:

DHARMA é o primeiro deles e apesar de bastante falado é pouco compreendido. Tem um significado amplo, em alguns textos, designa comportamentos humanos necessários ao universo, a toda a vida na natureza, na sociedade, em família e ao próprio individuo. O que se pode chamar de ordem social ou conduta reta.

Aqui o consideramos vocação, talento, o seu papel no mundo ou ainda “caminho para a verdade superior”, portanto quem vive de acordo com o seu Dharma, alcança mais rapidamente Moksha ou a libertação espiritual.

Dharma, ou darma, é uma palavra em sânscrito que significa aquilo que mantém elevado. Também é entendido como a missão de vida, o que a pessoa veio para fazer no mundo.

A ausência de felicidade deve-se á violação do DHARMA (dever de cada ser humano), o que é resultado da ignorância, ou seja, falta de autoconhecimento.

A raiz dhr na língua antiga do sânscrito significa suporte. Mas a palavra encontra significados mais complexos e profundos quando aplicada à filosofia budista e à prática do Yoga.

Não existe correspondência ou tradução exata de dharma para as línguas ocidentais.

O Dharma budista diz respeito aos ensinamentos do Buddha Gautama, e é uma espécie de guia para a pessoa alcançar a verdade e a compreensão da vida. Pode ser chamado também de "lei natural" ou "lei cósmica".

Os sábios orientais pregam que a forma mais fácil de uma pessoa se conectar com o universo e a energia cósmica é seguir as leis da própria natureza, e não ir contra elas. Respeitar seus movimentos e fluir conforme a lei natural indica. Isto faz parte da vivência do dharma.

Perceber e viver de acordo com o seu próprio dharma é a chave para a iluminação, para uma vida plena. É também associado à capacidade de um ser prestar um serviço aos outros. Então, aceitar e trabalhar o seu dharma é uma forma de servir aos outros, e também leva à conexão com o universo.

 

 ARTHA é o segundo e significa prosperidade, não só de bens materiais que são absolutamente necessários para se viver com dignidade e conforto, mas também como prosperidade intelectual, ao se ganhar conhecimentos para executar melhor o seu Dharma e ainda prosperidade espiritual que é o nosso maior objetivo no caminho da libertação e da felicidade. Artha enquanto ligado ao Dharma é considerado virtuoso, porque deixa de ser um fim e passa a ser um meio, pelo qual buscamos a nossa autossuficiência de forma ética e moral, o que nos dá equilíbrio e permite a realização dos objetivos espirituais.

 

Kama é o terceiro e significa felicidade, prazer, bem-estar. Está ligado não só a satisfação dos sentidos e dos desejos como por exemplo o sexo, onde o termo é mais conhecido, mas também como prazer na música, arte, dança, natureza e ainda o prazer na prática de uma boa ação. É considerado o objetivo básico da vida e deve ser vivido com consciência e sem prejudicar ninguém. Há quem diga que “Dharma gera Artha que compra Kama”.

 Moksha é o quarto e o principal objetivo da vida, a libertação espiritual, é também considerado o conhecimento que resulta do profundo desenvolvimento da consciência, através do qual os indivíduos são capazes de optar por ações corretas e não condicionadas ao meio, o que revela a verdadeira libertação. Os 3 objetivos anteriores, Dharma, Artha e Kama são externos e secundários, ou seja, são apenas o caminho para chegar ao principal objetivo que é Moksha.

O moksha, que significa "libertação", é um dos principais objetivos (ou purusharthas) dos praticantes do hinduísmo. A ideia por trás do conceito é alcançar a libertação do ciclo da vida, morte e renascimento, além de todo o sofrimento que acompanha o ciclo. Não há uma única forma de se alcançar o moksha, portanto, procure pelo caminho espiritual que parece correto para você. Independentemente da sua escolha, você deve se focar em buscar o autocontrole, em abrir mão de seus desejos e em servir aos outros de forma altruísta.

 Mokṣa significa liberdade. Ouça por favor esta história.

Um mestre e o seu discípulo estavam a morar recolhidos num lugar tranquilo e isolado. Tinham algumas vacas para lhes fornecer leite, que eram cuidadas pelo estudante. De manhã, depois das aulas, ele as levava até o pasto e no fim do dia as conduzia novamente até o estábulo.

Um dia, de noite, depois do pôr-do-sol, quando as vacas já estavam no estábulo, ele reparou que as cordas com as quais elas eram amarradas tinham sido perdidas no pasto. Foi, alarmado, falar com o mestre, pois elas poderiam fugir durante a noite se não fossem amarradas.

“Não se preocupe”, disse o professor, “faça de conta que você as amarra, uma a uma, nos seus respectivos lugares e elas ficarão quietas até amanhã”. O discípulo coça a cabeça, duvidando, e pergunta: “E depois?”

“Depois veremos”, responde o guru. O rapaz volta ao estábulo, faz de conta a amarra as vacas, e vá dormir. No dia seguinte, volta ao estábulo e repara que todas as vacas estão nos seus lugares. Fica agradavelmente surpreso.

Porém, quando as chama, elas não se movem. Tenta puxá-las, e nada. Aí, ele imagina que o mestre tem algum tipo de mantra mágico para imobilizar as vacas. Vai até ele e lhe conta o que está a acontecer.

O guru pergunta: “Mas você as desamarrou? Ontem você fez de conta que as tinha amarrado. Elas estão esperando para ser desamarradas. Volte la e solte-as!”

A pessoa em mokṣa não mais vê a si mesma como condicionada pela identificação com o corpo físico ou os pensamentos, sujeita à morte, à passagem do tempo. Conhecendo a si mesmo como Brahman, a pessoa se desvencilha da ideia de ser limitada, assim como as vacas se libertam da noção de estarem amarradas.

É só uma noção, lembre-se disso. É só uma mudança de visão de si mesmo. Não há necessidade de se fazer mais nada, nenhuma ação e precisa para se ter mokṣa. É só se dar conta de que você já é livre.

Se você está pronto para se dar conta disso, e as condições internas e externas assim o possibilitam, se a mente está preparada e purificada, se o pramāṇam, o meio de conhecimento está disponível, se o professor está disponível, mokṣa inevitavelmente acontece.

No sétimo capítulo da Chāṇḍogyopaniṣad aparece o mahāvākyam, a grande afirmação védica TAT TVAM ASI: “você é esse [Ilimitado]”. Dizer que você é Ilimitado, que você é a causa de tudo, pode parecer arrogante. Toda forma de arrogância é uma forma de ignorância.

Porém, não há arrogância alguma em se reconhecer como Brahman, em se reconhecer como satyam, como o verdadeiro. Pelo contrário, o autoconhecimento dá à pessoa tranquilidade e humildade.

 

Os 3 primeiros nunca devem ser vistos como objetivos principais a fim de se evitar caminhos e ações incorretas que podem acarretar doenças físicas e mentais.

Quando seguimos a nossa verdadeira natureza (o Dharma) com retidão, conseguimos alcançar a estabilidade material de forma equilibrada e honesta, sentimos o prazer da felicidade que foi chegar até este ponto e é aí que Moksha, a libertação, se revela.

Espero ter te inspirado a seguir (ou mesmo a procurar) o seu Dharma e ter como objetivo principal da sua vida: Moksha!