PESSOAS SEM
NADA...
(PARA UM NOVO
MUNDO, MAIO DE 1969)
REVISTA
"INYAN", NOVEMBRO DE 1968
Autor: G.
Osawa Tradução: Mitsuo Goto
Aqueles que
não têm nada não dependem de nada. Eles são pessoas sem propriedades, sem
conhecimento, sem posição, sem fama, sem poder, sem servos, sem escravos. Essas
coisas desaparecem corajosamente como nuvens, neblina, geada e orvalho. São
como pedaços de madeira podre flutuando na água, e aqueles que se apegam a elas
são decepcionados, arruinados e levados à morte. É uma tarefa difícil
afastar-se delas e adquirir saúde e beleza. Força física, poder, honra e tudo o
mais desaparecerão como fumaça um dia. Mais cedo ou mais tarde, sem exceção,
eles desaparecerão completamente. Depender dessas coisas é como viver num
palácio cheio de rachaduras. É o verdadeiro castelo ilusório!
Devemos nos
tornar pessoas que não possuem nada. É lamentável buscar essas ilusões de
propriedade com todo o nosso esforço ao longo de muitos anos. Aqueles que
perdem tudo, seja na velhice ou na juventude, são felizes. É somente quando
alguém perde todas essas coisas que percebe que elas eram apenas ilusões. Nesse
momento, eles começam a buscar o que é verdadeiro, eterno, absoluto e justo.
Até então, eles estavam encobrindo o seu verdadeiro eu. É somente nesse momento
que eles compreendem que coisas que nunca desaparecerão, como liberdade
infinita, justiça absoluta, vida, mente, discernimento, memória, liberdade, luz
e trevas, céu e terra, estrelas, espaço, plantas, montanhas, rios, frio, calor,
carbono e oxigênio, ar e água... sempre foram dados a eles. O espaço infinito,
o universo, existe desde o eterno passado, desde o começo do começo. Eles
existirão até o final, ou seja, para sempre. Ninguém os possuía. Ninguém é o
dono deles. Além disso, todas as pessoas que existem são feitas por eles. O
universo e os seres humanos têm uma relação entre o criador e a sua obra. No
entanto, os seres humanos interpretam isso erroneamente; eles sabem que são a
obra, mas acreditam que o criador é deles. Que grande engano! Não há um erro
tão grande em lugar nenhum. É como um bebê pensar que os seus pais, a sua casa
e as suas propriedades, e os seus irmãos e irmãs são feitos apenas para ele.
Um
romancista cria muitos personagens. Seria possível que todos esses personagens
de um romance, sejam apenas um ou todos, possam capturar o escritor que os
criou e usá-lo como um servo para seus próprios propósitos?
Imagine se
um peixe nascesse no oceano e depois nadasse por todos os lugares, e então
considerasse o oceano a sua propriedade! Se este peixe reivindicar o mar como a
sua propriedade, se ele tentar proteger o seu direito de propriedade com a
lógica de armas e explosivos contra os saqueadores que reivindicam direitos
semelhantes através da violência, não haverá maior absurdidade! E se ele se
preparar com várias bombas nucleares poderosas, o que acontecerá? Ele pode
perder a sua própria vida, saúde, energia, pensamentos e memórias. Como podemos
evitar essas perdas? Seu próprio corpo será perdido em breve, e há muito tempo
sabemos que não há nada que possamos fazer sobre isso. Por que ele não pensa
nisso?
Esse grande
erro trágico também se aplica aos seres humanos. Um exemplo disso é a
"democracia" ou a grande propaganda chamada "Declaração dos
Direitos Humanos"!
Os seres
humanos são apenas uma obra de arte entre todas as obras da natureza. Eles
reivindicam livremente a sua vida e direitos de propriedade. Os seres humanos
declaram que "devem ter a liberdade de buscar a sua própria felicidade e
desfrutá-la". Se um bebê disser que seus pais, empregados, propriedades e
irmãos e irmãs existem graças a ele, provavelmente encolheremos os ombros. Esse
erro é o mesmo da democracia proclamada na Declaração dos Direitos Humanos.
Tudo isso foi construído sobre esses erros e foi fabricado para formar a
ciência ocidental e a civilização moderna.
A coisa mais
importante para os seres humanos, algo que não pode ser negligenciado, é a luz,
a água, o ar, as montanhas e o mar, o sol e o universo com bilhões de
nebulosas, constelações, plantas, etc. Todas essas coisas existem desde tempos
imemoriais, nunca foram esquecidas. Elas são tudo o que existe e sempre
existirá desde o infinito passado até a eternidade. Em resumo, elas são o nosso
criador, o nosso drama, as cenas de nosso palco, os nossos atores, diretores de
palco, cenógrafos, assistentes e orquestra. Nosso corpo é apenas uma das
pequenas marionetes que interpretam um papel e aparecem no palco por um breve
momento graças a elas. Se essa marionete considerar o seu criador, os seus
funcionários, o dono do teatro como a sua propriedade, não haverá insulto mais
ridículo! O ar e a luz, junto com o universo, dezenas de bilhões de nebulosas,
montanhas e mares, o C e o 0, ouro e prata, diamantes, existem desde o início
até o infinito fim, existirão infinitamente.
Aqueles que
descobrem essa existência, aqueles que reconhecem que essa existência é o
começo, a fonte, a alma e a razão do seu pequeno "eu", já estão
unidos a essa existência. Ele já é uma pessoa que considera essa existência
como a sua própria alma. Essa existência é eterna.